Canto do Marl: Narrativas de um lugar ocupado pela esperança estudantil e artística (2019) - Livro em PDF completo

livro em pdf canto do marl


A todas e todos artistas de rua de Londrina.
A todas e todos artistas de rua.
A todas e todos artistas.
A André Gomes de Oliveira.


Apresentação e link para download

Neste livro, contamos a história de um lugar. Um prédio encravado no quadrilátero central da cidade de Londrina. É uma construção robusta, mas simples e sem maiores atrativos estéticos. Porém, os estudantes que por lá passaram em algum momento de suas vidas, ao retornarem, décadas depois, entendem-no de outra forma e são tomados por um encantamento que provoca um certo marejar no olhar, ora contido com o dorso da mão, ora transbordando em lágrimas que teimam em descer pela face, emoldurando um sorriso no qual se lê: voltei. O olhar percorre cada canto e temos a certeza de que a pessoa não está a ver o mesmo que nós. Quais são as imagens que ocupam a retina dos seus olhos e que não nos é possível enxergar?

Os artistas que chegaram por agora também o entendem de outra forma, cuidam com esmero e chamam muita gente para vivenciar belos espetáculos com músicas, pinturas, cantos e danças. Igualmente se identifica o encantamento que provoca o marejar no olhar quando o ar que se respira está impregnado de arte e emoldura um sorriso no qual se lê: conseguimos. O olhar percorre todos os cantos e temos a certeza de que enxergam para muito além do que pode ser visto hoje. Quais são as imagens que ocupam a retina dos olhos dos artistas quando olham para esse espaço?

Fomos em busca de reconstruir essas cenas para contar a história de um lugar marcado por muitas vivências e habitado pela esperança estudantil e artística. Esperança é uma característica de quem tem coragem. Coragem tiveram os estudantes secundaristas da década de 1950, os estudantes que os sucederam e levaram adiante a bandeira do movimento estudantil em tempos de restrição à liberdade e os artistas que, no dia 27 de junho de 2016, assopraram a fagulha de esperança, a qual sempre se manteve acesa nesse lugar construído para ser a sede da ULE – União Londrinense dos Estudantes – e que, hoje, é o espaço cultural Canto do Marl – Movimento dos Artistas de Rua de Londrina. Dois movimentos sociais que, em tempos distintos, habitam o mesmo espaço e imprimem nele, cada qual a seu tempo e a seu modo, a marca da esperança, aqui entendida como compromisso com o futuro, como desejo de ação responsável para as futuras gerações.

Comprometimento com o futuro é uma característica do realista esperançoso, como nos ensina o mestre Ariano Suassuna. Todas e todos que, de alguma forma, envolveram-se com as ações realizadas nesse prédio ao longo de quase sete décadas de existência não se confortaram com uma leitura pessimista de mundo, que nos paralisa, tampouco se inebriaram tolamente com o otimismo utópico do verbo, que nos ilude. O que se fez foi a ação possível entre o real e o ideal.


O livro também pode ser lido gratuitamente no site oficial e no aplicativo da Editora CRV: https://editoracrv.com.br

Saiba mais sobre o projeto que deu origem ao livro

Imagem de uma câmera e livros

O projeto Lugar de vivências: preservação das memórias e histórias de um prédio habitado pela esperança estudantil e artística teve por finalidade última a valorização do patrimônio material e imaterial de Londrina, por meio de uma ação de pesquisa em torno do prédio situado na Avenida Duque de Caxias, número 3241. Financiado pelo Programa de Incentivo à Cultura – PROMIC, contou com o apoio do Grupo de Pesquisa História e Ensino de História, da Universidade Estadual de Londrina.

Durante o período de doze meses, a partir de investigações em jornais, em atas da Câmara de Vereadores, de análise de fotografias e entrevistas com líderes e participantes do movimento estudantil e do movimento artístico, construímos uma história sobre o prédio pautada, principalmente, nas vivências narradas pelas pessoas entrevistadas.

Para além da pesquisa documental, saímos em busca de pessoas que vivenciaram histórias no espaço enquanto era sede do movimento estudantil, a fim de que compartilhassem suas experiências. Todo o material coletado gerou um acervo que ficará disponibilizado no Canto do Marl para pesquisas futuras e foi base para a construção dos seguintes produtos: este livro, um documentário, um curso
de formação para professores e uma mostra cultural.

O livro


No primeiro capítulo, trazemos a história da construção do prédio, tendo por fonte, principalmente, jornais, atas da Câmara Municipal de Londrina e entrevistas. Optamos por construir uma narrativa que mescla o desejo de se fazer e o que efetivamente foi feito. Assim sendo, convidamos o leitor a visitar um prédio que nunca foi construído, mas que foi avidamente vivenciado pelas pessoas que se envolveram no processo de edificação do que foi possível naquele contexto. Agradecemos às pessoas que se dispuseram a colaborar com nossa pesquisa, contando-nos sobre as delícias e as agruras de ser estudante na Londrina das décadas de 1950 e 1960. Em especial, registramos aqui um agradecimento ao Sr. Otássio Pereira da Silva e ao Sr. Leonardo Henrique dos Santos, que não mediram esforços para nos auxiliarem e nos orientarem na pesquisa por informações relacionadas ao período.

Na segunda parte do livro, a condução das narrativas fica por conta das 14 personagens entrevistadas. Somos presenteados com narrativas singulares que traduzem as mais diversas experiências vivenciadas nesse lugar quando era sede do movimento estudantil. Agradecemos a todas e a todos que aceitaram nosso convite e revisitaram o prédio para concederem as entrevistas. Percorrer o lugar por meio das memórias narradas propiciou momentos mágicos para todos os envolvidos. Selecionamos trechos de cada entrevista nos quais se aborda a importância que a Ules teve na vida do entrevistado: as vivências e os projetos culturais, os eventos, as exposições, as festas, os shows, entre outros momentos dos quais participaram, além de casos inusitados que gostariam de colocar em destaque e como receberam a notícia da ocupação.

No terceiro capítulo, que encerra a obra e também é um marco de reinício para o espaço cultural Canto do Marl, contamos como e por que o prédio foi ocupado pelos artistas do Movimento de Artistas de Rua de Londrina e, a partir de então, o que foi feito. Os fatos são narrados por tempos: do fogo, da água e do futuro. Agradecemos a todas e a todos que colaboraram concedendo-nos entrevistas e por aceitarem a proposta da construção de uma escrita coletiva. Para além dos nomes dos prefeitos, não há referência em específico a outros atores, primeiramente, porque correríamos o risco de esquecer pessoas que foram fundamentais na construção desta história e, segundo, porque temos certeza de que ela só se fez possível pela força do coletivo.

Optamos por escrever um livro com certa liberdade quanto a normas e padronizações. Para facilitar a leitura, as notas e as referências foram colocadas no rodapé das páginas e minimizamos ao máximo a inserção de citações em meio ao texto. Quanto ao uso de expressões, alguns esclarecimentos se fazem necessários: o leitor encontrará as siglas ULE e Ules no texto pois, no início dos anos 1960, no lugar de União Londrinense de Estudantes passou-se a usar a nomenclatura União Londrinense de Estudantes Secundaristas. Em algumas passagens do livro, a palavra “ocupação” é escrita com a letra “K” para chamar a atenção para movimentos que lutam pela criação de espaços culturais e em referência ao movimento sociocultural “Okupa”, que defende a utilização dos espaços públicos abandonados para fins sociais, culturais e políticos.

Acreditamos que as histórias contadas neste livro podem contribuir para a construção de uma cidade mais humana, na qual todas e todos encontrem espaços em que as ações realizadas sejam convidativas para se exercitar o estar juntos. Por fim, e para se ter um bom começo nesta história, é preciso ter  esperança, transitar em direção ao futuro que queremos para esse espaço, conjugando o verbo “esperançar”.

Índice:

Apresentação Um prédio e muitas histórias 11
A pesquisa e seus desdobramentos na cidade 12
O livro 13

Capítulo 1 Um lugar para os estudantes: a construção do prédio da ULE 17
O cenário 19
O enredo 28
Uma personagem dentre tantas 35

Capítulo 2 Experiências narradas: entrevistas 37
O Zé Lista 39
Otássio Pereira da Silva
Na militância estudantil, a descoberta da vocação 44
Leonardo Henrique dos Santos
A memória da antiga Ules e a felicidade no Canto do Marl 47
Célia Regina de Souza
Fogueira democrática 50
Nei Inácio
"Piquenique no front" – a Ules dos anos 69/70 51
Geraldo Gonçalves de Oliveira Filho, Renato Navarro e Ednéia Consolin Poli
Três dias de shows no HC Festival 61
Beta Liberato
Grêmio estudantil e o grito underground 62
Marcelo Domingues
Ules no Cine Vila Rica 64
Adriana Regina de Jesus
Mostra Zumbi do Palmares 66
Agenor Evangelista
Shows punk, skate, a união e a polícia 68
Luis Eduardo Cientista
Bailes Black e festas na Ules 71
Reinaldo Augusto Barbosa (MC Rei)
Rolando Ideias 73
Diogo Takeo Hendo

Capítulo 3 Da Okupação ao Canto: os tempos do Marl 77
Nas ondas do Marl: os movimentos na cidade de Londrina 78
Tempos da okupação 82
Tempo da fogueira: pertencimento 82
Tempo da água: fl orescer 91
Tempo do futuro: esperança 101

Autoria

Este livro tem autoria coletiva. Os integrantes do Projeto Lugar de Vivências: preservação das memórias e histórias de um prédio habitado pela esperança estudantil e artística, durante o período de um ano, dedicaram-se a pesquisar sobre a construção de um prédio que se tornou, pela sua importância para a cidade de Londrina, no estado do Paraná, um lugar de memória. Trata-se de um convite às  pessoas que queiram refletir sobre os espaços públicos da cidade e seus usos. Um convite para olhar  para além das paredes e redefinir o que precisa ser preservado.

Como citar:
Yamashita, Bruna Ester Gomes. Canto do Marl: narrativas de um lugar ocupado pela esperança estudantil e artística / Bruna Ester Gomes Yamashita, Danilo do Amaral Santos Lagoeiro, Fabíola Ferro da Silva, Fagner Bruno de Souza, Lucas de Godoy Chicarelli, Sandra Regina Ferreira de Oliveira, Barbara B. Pozatto (revisora), Eluanna R. das N. Pereira (designer) – Curitiba : CRV, 2019. 116 p.

Autores citados no livro:
Bruna Ester Gomes Yamashita
Danilo do Amaral Santos Lagoeiro
Fabíola Ferro da Silva
Fagner Bruno de Souza
Lucas de Godoy Chicarelli
Sandra Regina Ferreira de Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário